DHPP vai coordenar a investigação dos crimes, diz
Osvaldo Moraes (Foto: Luna Markman / G1)
Osvaldo Moraes (Foto: Luna Markman / G1)
Cinco outros casos de possíveis vítimas do trio investigado por
homicídio e pela prática de canibalismo, em Garanhuns, Agreste
pernambucano, estão sendo apurados pela Polícia Civil, que não revelou
mais detalhes desses crimes para preservar a apuração dos fatos. Nesta
segunda-feira (16), o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa
(DHPP) anunciou, no Recife, que vai coordenar três frentes de
investigação: os dois casos já conhecidos no interior de Pernambuco,
outra investigação na delegacia de Olinda, no Grande Recife, além de
apoiar um inquérito aberto na Paraíba, onde a existência de uma vítima
do trio também está sendo apurada. Ao todo, nove mortes podem ser
atribuídas ao grupo, quando a investigação for concluída.
De acordo com o DHPP, os três suspeitos já confessaram a autoria
dos dois assassinatos em Garanhuns e de mais um em Olinda. No entanto,
até agora,
só foram encontrados os corpos das mulheres mortas no
interior. Eles foram liberados pelo Instituto de Medicina Legal (IML)
do Recife, no sábado (14), após identificação dos parentes. Mais
amostras de tecidos foram coletadas para serem examinadas pelos
peritos. "Pode ser que, além dessas duas vítimas, haja restos mortais
de outras pessoas também", disse o delegado Osvaldo Moraes, diretor de
Operações da Polícia Civil.
Em relação aos salgados recheados com carne humana, que uma das
vítimas afirmou vender na cidade, o diretor afirmou que é praticamente
impossível provar isso. "Não sabemos se é verdade, se eles falaram só
para causar impacto. Isso não está provado nos autos. Temos que ver se
é criação da cabeça deles ou não. A verdade é que isso nunca vai ser
provado", ponderou.
Sobre o caso de Olinda, ele informou que a casa onde o trio morava,
localizada no bairro de Rio Doce, deve ser alvo de buscas. A polícia
trabalha com a hipótese de o corpo da mulher assassinada pelos
suspeitos em 2008 estar enterrado lá. Após a morte, uma das
investigadas assumiu a identidade e a filha dessa vítima. A criança tem
5 anos e vivia com os três suspeitos, em Garanhuns, e está com a
paternidade sob investigação, pois duas certidões foram encontradas com
ela, com nomes de pais e avós diferentes. O teste de DNA deve ser
concluído até o fim deste mês.
Delegado Wesley Fernandes é o titular do
inquérito (Foto: Luna Markman / G1)
inquérito (Foto: Luna Markman / G1)
Ao todo, cinco delegados estão envolvidos na apuração do caso:
Paulo Berenguer, da delegacia de Olinda; Joselito Kherle, gestor do
DHPP; Wesley Fernandes, titular do inquérito; Marcos Omena, delegado da
seccional de Garanhuns, e mais um delegado do serviço de inteligência
da Polícia Civil, que não pode ter o nome divulgado. "O nosso objetivo
é identificar quantos crimes eles cometeram e descobrir onde esses
corpos estão, para depois investigar a motivação”, explicou Osvaldo
Moraes.
Entenda o caso
Os suspeitos de cometer a
barbárie formam um triângulo amoroso composto por um homem e uma mulher
de 52 anos, que seriam casados, e uma jovem de 23. Em depoimento à
Polícia Civil, eles disseram que usavam carne humana para produzir
salgados, que eram vendidos à população de Garanhuns e servidos como
refeição, inclusive para a criança de 5 anos que vivia com eles e que
ajudou a polícia a elucidar os crimes. Os suspeitos ainda confessaram
guardar parte dos corpos das vítimas na geladeira.
Os restos mortais das duas mulheres assassinadas foram liberados no
sábado (14) pelo Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife, após
identificação por parentes. Um dos corpos já foi enterrado no município
de Palmeirina, também no Agreste. Os restos mortais foram encontrados
na casa onde vivia o trio suspeito de cometer os crimes. As duas
mulheres e o homem estão detidos em unidades prisionais de Pernambuco,
cujos nomes a polícia não divulgou. A casa onde os suspeitos moravam em
Garanhuns foi parcialmente incendiada por populares.
Paternidade
Na sexta-feira (13), duas pessoas
se apresentaram à polícia como parentes da menina de cinco anos que
vivia com o trio. Segundo a juíza da Vara Regional da Infância e da
Juventude do município, Karla Peixoto Dantas, eles prestaram depoimento
e deixaram material para a realização de testes de DNA, cujo resultado
está previsto para ser divulgado em 20 dias. Enquanto isso, a criança
permanece em uma instituição de acolhimento em Garanhuns. Se não houver
comprovação de parentesco, a menina será inserida no cadastro nacional
de adoção.
A juíza explicou que duas certidões de nascimento da criança foram
encontradas, informando pais e avós diferentes. Em uma delas, o
suspeito é apontado como o pai. De acordo com investigações policiais,
a menina seria filha de uma mulher assassinada pelo trio em Olinda, no
ano de 2008. Uma das suspeitas assumiu que usava o nome dessa mulher e
dizia que a criança era filha dela.
Seita
De acordo com a polícia, os suspeitos
falaram que faziam parte de uma seita, que pregava a purificação do
mundo e a diminuição populacional, matando três mulheres por ano. O
homem suspeito de comandar o trio nos assassinatos fez um livro,
ilustrado e registrado em cartório, onde conta detalhes dos crimes e da
vida dele.
A polícia começou a desvendar o crime quando encontrou os restos
mortais das mulheres na residência deles. Um dos dois corpos seria de
uma mulher desaparecida desde fevereiro; o outro, de uma mulher de 20
anos, que sumiu no dia 15 de março. Depois de as famílias das vítimas
prestarem queixa, a polícia localizou o trio quando uma fatura de
cartão crédito chegou à casa de uma das vítimas. Imagens das câmeras de
segurança de lojas onde as compras foram efetivadas mostravam os
suspeitos.
As vítimas também teriam sido vistas perto da casa dos investigados
antes de desaparecerem. A polícia conseguiu mandados de prisão e de
busca e apreensão e, ao ser abordada, uma das mulheres teria assumido
os crimes e revelado o local onde os cadáveres estavam enterrados.
Segundo a polícia, a menina de cinco anos que morava com o trio
testemunhou os crimes cometidos na casa. Em depoimento, ela contou que
o pai teria cortado o pescoço das vítimas.
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